quarta-feira, 30 de abril de 2008

A alegria de simplesmente ser

Hoje é um dia especial! Uma pessoa que muito amo faz 25 anos! É minha irmã querida, Jenifer. Quero felicitá-la nesse post pelo prazer da felicidade que a cada dia descubro de simplesmente ser seu irmão mais velho. Quero me alegrar com ela, pois uma das maiores alegrias da vida é poder compartilhá-la com quem amamos, e poder aprender, dia após dia, que não vivemos sem elas, pessoas como nós, tão complicadas e paradoxais e ao mesmo tempo tão indispensáveis.

Quero também chorar com ela, pois a alegria se expressa no pranto tanto quanto no riso; e nos mais profundos recônditos de nossa alma, ainda que muitas vezes ferida, triste, sem horizontes, existe uma alegria escondida, a alegria de que ser é o bastante, pois bem-aventurados são aqueles que aprendem que na vida não precisamos ter ou fazer tantas coisas, e que mais importante é caminhar, e de modo mais despretensioso possível, pra que os sonhos e as pretensões de Deus encharquem nossos corações, mobilizando-nos para uma jornada mais compassiva, sensível e agradecida...

Quero trazer uma palavra de esperança ao seu coração. Porque sem esperança, por mais dias que vivamos e passemos nesse mundo, seremos os mais infelizes dentre os caminhantes... A esperança é o combustível para uma existência movida pela graça de Deus, e que, apesar dos muitos enfados, percalços e dores, ainda assim teima em desenvolver a tenra arte de persistir e nunca desistir da vida. Afinal de contas, não é Deus o ser mais apaixonado pela vida de que já ouvimos falar?

Quero, portanto, convidá-la a ser contaminada pelo desejo incessante de viver e de espalhar a vida de Deus entre aqueles que talvez tenham perdido a noção de que viver é bom demais, apesar dos pesares, pesados, mas não o bastante para nos derrubar em definitivo. Quando sou fraco, então é que sou forte... E como diz a bela canção “O que é o que é”, de Gonzaguinha, quero incentivá-la a nutrir e ficar com a pureza da resposta das crianças: “é a vida, é bonita e é bonita...”.

Viver, e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar (e cantar e cantar...) a beleza de ser um eterno aprendiz. Eu sei (ah, eu sei) que a vida podia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita... Um beijo no coração!

Jonathan

terça-feira, 29 de abril de 2008

Escrever: a abertura de poços profundos

Escrever pode ser uma verdadeira disciplina espiritual. Escrever pode nos ajudar a nos concentrar, a entrar em contato com o que há de mais profundo em nossos corações, a clarear nossas mentes, a processar emoções confusas, a refletir sobre nossas experiências, a dar expressões artísticas ao que estamos vivendo, e a armazenar eventos significantes em nossas mentes. Escrever pode ser bom também pra quem vai ler o que escrevemos. Muitas vezes um difícil, doloroso ou frustrante dia pode ser “redimido” ao se escrever sobre ele. Pela escrita podemos reclamar aquilo que vivemos e integrar isso mais plenamente em nossas jornadas. A escrita pode ser uma forma de salvar nossas próprias vidas e às vezes as dos outros também.

Escrever não é apenas uma anotação de idéias. Frequentemente se diz: “Eu não sei o que escrever. Não tenho pensamentos que valham a pena ser anotados”. Porém, a boa escrita, em si, nasce do próprio processo de escrever. Tal como simplesmente sentamos em frente a uma folha de papel e começamos a expressar em palavras o que está em nossas mentes ou em nossos corações, novas idéias emergem, idéias quem podem nos surpreender e nos levar a lugares interiores que mal sabíamos que estavam lá.

Um dos aspectos mais prazerosos da escrita é que ela abre poços profundos para tesouros escondidos que para nós são bonitos de ver, e às vezes para os outros também. Um dos argumentos frequentemente usados para não escrever é esse: “Não tenho nada de original para dizer. O que quer que eu diga alguém já disse antes de mim, e bem melhor do que eu nunca poderia ter dito”. Esse, contudo, não é um bom argumento para não se escrever.

Cada pessoa humana é única e original, e ninguém viveu o que essa pessoa viveu. Além disso, o que temos vivido não é apenas para nós próprios, mas para outros também. A escrita pode ser uma maneira muito criativa e revigorante para tornar nossa vida disponível a nós mesmos e aos outros. Temos que confiar que as nossas histórias merecem ser contadas. Podemos descobrir que quão melhor escrevermos nossas histórias, melhor desejaremos vivê-las.
Henri J. M. Nouwen
Traduzido de Daily Meditation (from Henri Nouwen Society)

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Encontros necessários

É engraçada (e triste, ao mesmo tempo) a maneira como tentamos esconder nossa real personalidade de nós mesmos, que dirá das pessoas. Fingimos não conhecer esse “outro eu” que está muito mais perto do que imaginamos. Preferimos suprimir os conflitos, evitar o confronto, para manter o conforto. Assim, há sempre negócios pendentes a se resolver consigo mesmo. “Bater um papo” com esse outro eu, ajudaria, mas como é doloroso ter que tocar nos “intocáveis” não é mesmo? Nessas feridas cobertas de escamas, que jamais cicatrizam porque nunca foram devidamente diagnosticadas.

A abertura para o outro jamais acontecerá sem uma real abertura para si mesmo. O autoconhecimento é uma das disciplinas mais essenciais à sanidade, pois gera efetivas lutas contra nossas hostilidades interiores, das quais preferimos não falar, nem enxergar. Criamos, assim, um mito – como o daquele filme, A Vila – em torno daqueles sobre quem não podemos falar. E isso se torna uma voz, produzida por nossos mecanismos de defesa, que diz: “não toque, jamais toque nisto”, parecendo-se com o aviso de uma mãe ao seu filho para que não bote o dedo na tomada a fim de não ser eletrocutado. Mas sem choque, em certo sentido, não há o renascimento de uma nova energia, assim como sem a tristeza, a exultação perde seu valor, e sem o fracasso, não há prazer no êxito.

Aqueles (as) que insistirem em manter ocultas suas próprias dores, não conhecendo nem as aceitando, jamais poderão alcançar a cura. Nosso Deus, apesar de silencioso muitas vezes, nunca omite seu amor e cuidado por nós, mesmo sabendo tão bem de nossas contradições. Mas é difícil experimentar de um amor tão terno e incondicional se não conseguimos ser sinceros com Ele. Ousemos enfrentar essa realidade e aprender a orar como o salmista: “Um abismo chama o outro abismo... Contudo, Senhor, durante o dia me acompanha a sua misericórdia, e de noite está comigo o teu cântico... A Ele, meu auxílio, Deus meu” (Sl 42), quero me conhecer melhor, para te conhecer, Senhor.

Jonathan

terça-feira, 22 de abril de 2008

Um canto de liberdade

“Guias de cegos! Vocês coam um mosquito e engolem um camelo” (Mateus 23:24). Em tantos momentos, essas palavras de Jesus, apesar de exortativas ou quem sabe ásperas demais para serem aceitas, podem soar para nós como um canto de liberdade. São como um tiro fulminante acertando o alvo bem no centro, produzindo um som alucinante e uma transformação inesperada. Como anelo por ver esse canto retumbando nos ouvidos dos opressores de hoje, sendo entoado por cristãos não-nominais, inconformados e persistentes da contemporaneidade, fazendo coro ao lado de inúmeras vozes de pessoas que continuam sofrendo na pele os diversos tipos de escravidão ainda vigentes. Mas Jesus fala aqui de um tipo específico de escravidão: a escravidão da religião.

O cristianismo originalmente constituiu-se como uma religião dos escravos, porém libertos e absolvidos pelo sangue de Jesus Cristo. Posteriormente, em grande parte, não foi capaz de se proteger do fermento sórdido e burocratizante dos fariseus – praga que sempre existiu e existirá na religião; lobos disfarçados de cordeiros, que colocam fardos pesados sobre os ombros dos mais fracos, sem poder, eles mesmos, movê-los. É um tipo de gente amarga, que não pratica o que prega e ainda faz tudo para preservar o mérito e alcançar reconhecimento. Celebram os atos dos que mercadejam a palavra de Deus e que fazem tudo em seu nome (até guerra), porém rejeitam e assassinam seus profetas, junto com aqueles que não se acomodam com suas indulgências legalistas e nem vendem a mensagem de seu mestre por míseras 30 moedas de prata, como fez o “discípulo” Judas Iscariotes.

O canto de Mateus 23 é do tipo que Jesus entoava. O canto de liberdade do Evangelho, não é apenas um canto de paz interior (“pois paz sem voz não é paz, é medo” – O Rappa), de harmonia ou de alívio pela quebra das algemas, mas é também um canto de protesto e de repulsa ao sistema e à ordem vigente, se esses se fazem opressores. O canto da liberdade é o canto da subversão, do inconformismo e da ira santa. Só pode cantá-lo quem não desistiu da utopia possível do Reino, mesmo que isso custe o renunciar à própria existência. É o canto daqueles que celebram a vida e resistem às forças dominadoras da morte. É o grito de coragem e desespero (como o que foi dado por Cristo na cruz – “Por que me desamparaste?”), de quem tem pouca ou nenhuma chance de vencer historicamente falando, mas que não tem mais nada a perder, porque, em Cristo, tudo perdeu e também tudo já lucrou. Abaixo à escravidão! Viva a liberdade!

Jonathan

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Um compromisso radical

Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com teu Deus”. (Miquéias 6.8).

O que caracteriza um compromisso radical com Deus e seu Reino? Caso fosse tentar responder nossa pergunta, o profeta Miquéias certamente ironizaria: “Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano?” (Mq 6.7). Não seriam a realização de sacrifícios espirituais, meditação, oração, jejum, doação de cestas básicas, etc, que tanto se enfatiza na igreja como sendo “a marca”, por excelência, de nosso compromisso e amor a Deus? Não me parece, porém, que nestas coisas esteja o cerne do compromisso radical, pelo menos não a sua evidência principal.

É muito mais do que isso, porque tem muito mais a ver com o ser de Deus e sua natureza operando em nós pelo Espírito, do que com nosso desejo, às vezes sincero, às vezes abominável, de barganhar com ele e de tentar agradá-lo. Mas se for assim, lembrando das palavras de Jesus, nossa justiça em nada excede à justiça dos escribas e fariseus. Deus não precisa de sacrifícios! Ele disse: “Misericórdia quero, não sacrifício, o conhecimento de Deus mais do que os holocaustos” (Os 6.6). Qual é a marca do compromisso radical que Deus quer da gente? Ora isso já foi declarado. Deveríamos ser experts nisso. Conforme a Palavra de Deus, por meio do profeta Miquéias no versículo acima citado, assumir esse compromisso pressupõe pelo menos três mudanças:

1. Uma mudança radical de agenda (“pratiques a justiça”). Ele nos convoca a deixarmos nossas preferências individuais para assumir as preferências de Deus, pela justiça, pelas vítimas das injustiças nesse mundo-cão, pela luta na organização da sociedade em torno dos valores da solidariedade, igualdade e liberdade. Evidências de que o Reino já está entre nós, ainda que não plenamente.

2. Uma mudança radical de mentalidade (“ames a misericórdia”). Somos chamados a trocar o amor ao rito, pelo amor às pessoas; de uma mentalidade sacrificial e auto-indulgente, para uma mentalidade libertadora do ser humano em sua integralidade. Enquanto a justiça cria uma sociedade mais equilibrada, a misericórdia gera os laços comunitários!

3. Uma mudança radical de postura (“andes humildemente com teu Deus”). Em outras palavras, Deus requer de seus filhos que eles sejam simplesmente humanos, não pretendendo ser divinos. Porque “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”. O verdadeiro poder e a verdadeira graça se destinam aos humildes e não aos auto-suficientes, pois se aperfeiçoam na fraqueza.
Deus já nos mostrou. Já deu a dica. Ele não entra no jogo sórdido das barganhas humanas. Ele quer menos ortodoxia (doutrina certa) e mais ortopraxia (prática certa); menos consciência de um compromisso, e mais encarnação desse compromisso, um compromisso real. Cantar o amor de Deus é bom. Melhor é viver. Que ele nos inspire ao equilíbrio na vida cristã e nos encha de graça!

Jonathan

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Correndo o trecho sem saber nada da vida

“Cada um corre a sua carreira como um cavalo que arremete com ímpeto na batalha”
(Jeremias 8:6).

A muitas pessoas esta analogia caberia perfeitamente! Primeiro, porque o sinônimo da vida nos grandes centros tem sido “correr, correr e correr”... E afirmar que a minha ou a sua vida está “corrida” (no sentido de cheia de compromissos) é garantia de status, de ajustamento aos novos tempos. Em segundo lugar, porque o ímpeto cavalar ao qual alude Jeremias, traz à tona um jeito bastante peculiar de “levar a vida” em que o indivíduo se lança ambiciosamente em uma “corrida”, onde os meios são irrelevantes, assim como quem quer que esteja “no meio”, à frente ou a trás e onde o que substancialmente importa é a conclusão, a meta, a chegada. A atitude da “maioria” mostra que estamos sempre à procura de atalhos que possam encurtar a longa, e muitas vezes dura, alameda da vida.

Pessoas que assim agem, estão fatalmente sujeitas a perder a capacidade (dom) de enxergar a beleza que se encontra à beira do caminho; de tão preocupadas com os grandes acontecimentos, acabam passando largo em relação às pequenas maravilhas da existência; de tão ensimesmadas passam a tratar as outras pessoas estatisticamente, como se fossem metas, estratégias ou conquistas a se fazer. Mas se a vida se resumisse a métodos, técnicas e estratégias o ser humano estaria categoricamente morto! Se você assistiu a um dos últimos filmes de Steven Spielberg, “A.I. – Inteligência Artificial”, pode ter uma idéia sobre o que estou falando.

A verdadeira “graça” da vida, no entanto, está na jornada percorrida, e não apenas no destino a que se pretende chegar. David Wong escreveu: “A vida pode levar-nos a um destino, mas é a viagem em si que nos faz ser o que somos e seremos”. No fim das contas, quem sabe sob o argumento de que a história é irreversível, alguém poderá dizer que a vida continuará irremediavelmente sendo marcada por correria e competição. Eu, porém, quero prestar mais atenção no caminho, nas belezas e contrastes nele existentes, nas pessoas com as quais nele cruzo, sem que por mim passem desapercebidas, como se fossem apenas vultos, corpos sem valor, matéria descartável.

Jonathan

sábado, 12 de abril de 2008

Autoridade, obediência e compaixão

Autoridade e obediência nunca podem estar divididas, com algumas pessoas centralizando toda a autoridade enquanto outras só obedecem. Essa separação causa um comportamento autoritário em uma das partes e um comportamento passivo na outra. Isso perverte tanto a autoridade como a obediência. Uma pessoa com grande autoridade, que não tem ninguém a quem devotar obediência está em grande perigo espiritual. Igualmente, uma pessoa obediente que não tem autoridade sobre ninguém também está em perigo.

Jesus falou com grande autoridade, mas toda a sua vida foi de completa obediência a seu Pai; e o mesmo Jesus que disse: “não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26.39), foi-lhe dada toda autoridade no céu e na terra (veja Mt 28.18). Perguntemos a nós mesmos: vivemos nossa autoridade em obediência e nossa obediência com autoridade?

Na maioria das vezes pensamos nas pessoas com grande autoridade como maiorais, distantes, difíceis de alcançar. Porém, autoridade espiritual provém da compaixão e emerge de uma intensa e íntima solidariedade com aqueles que estão “sujeitos” à autoridade. Aquele que é totalmente como nós, que entende profundamente nossas alegrias e dores, esperanças e desejos, o qual está disposto e preparado a andar conosco, esse é aquele a quem gratamente conferir-se-á autoridade e a quem se estará disposto a ser assujeitado.

A autoridade compassiva é aquela que habilita, encoraja, faz brotar dons escondidos, e possibilita que grandes coisas aconteçam. Verdadeiras autoridades espirituais estão localizadas num triângulo de cabeça para baixo, apoiando e proporcionando luz aos caminhos de todos aqueles a quem oferecem sua liderança.

Henri J. M. Nouwen
Traduzido de Daily Meditation (Henri Nouwen Society)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Eu creio no Pentecostes!

Eu creio no pentecostes! Creio na destreza, liberdade e poder do Espírito Santo no meio da Igreja. Creio que o Espírito age das formas mais inusitadas e através das pessoas mais inusitadas também, do ponto de vista humano, e não divino, pois Deus ama, acolhe e usa os “pequeninos” a quem Lhe aprouve “dar o Reino”. Creio que, assim, ele confunde os poderosos, tão ocupados em manter as estruturas e em colocar mais fermento no bolo do poder, e mais chantilly, a fim de que possam se lambuzar mais e mais... Porém, acerca desses, Jesus já havia nos advertido, de que haveria lobos em pele de cordeiros, que expulsariam demônios e até curariam em seu nome, mas aos quais ele (Jesus), definitivamente, não reconheceria como sendo “seus”.

O que ele não nos avisou (e nem teria como) é que, ao nos deixar o Espírito, ele também deixaria em aberto vias e formas através das quais viria o Reino, porque o Espírito é livre, liberta e revoluciona. Em muitos sentidos, o Espírito revolucionou a Igreja no mundo por meio do movimento chamado pentecostalismo, por muitas razões. Uma delas é que o pentecostalismo conseguiu atingir os “bolsões” populacionais que o protestantismo tradicional não foi capaz de fazer nesse país, por suas características e raízes históricas. De modo prático, não apenas ofereceu uma “nova cara” – a cara do crente-pentecostal-brasileiro – como conferiu dignidade e valor às pessoas que, dentro de seu ramos sociais externos, de uma sociedade capitalista “selvagem”, já haviam há muito tempo perdido ambas, tanto a dignidade como a auto-estima.

Convencionou-se demais, especialmente entre os evangélicos “históricos”, “bater” no pentecostalismo, como se esse movimento nada pudesse acrescentar ao avanço do Evangelho em nosso país – e em muitos aspectos o que se fez mesmo foi “andar pra trás”; porém, o detalhe é que protestantismo também deve ser incluso nessa crítica, por outras razões, é óbvio, mas longe está de ser “isento”. Como todo movimento humano, o pentecostalismo também tem suas falhas, maneirismos e exageros. E tem como ser diferente, pergunto? Esse olhar empático para a sua história no continente latino-americano ajuda-nos a perceber o quanto as dinâmicas do reino e da missão estão fora de nossas mãos e do nosso controle. Deus está no controle. O Espírito sopra onde quer. E ele soprou e sopra muito através dos pentecostais; quem viveu viu e quem viver verá.

Os pentecostais precisam ajustar erros históricos e desajustes com a vontade e a Palavra de Deus? Sim! Mas quem disse que as confessionalidades “históricas” também não precisam? Esse diálogo é pioneiro, praticamente não existe, porque ambos os lados estão fechados para a possibilidade de dialogar, o que implica em abrir mão de certos “bezerros de ouro” e passar de uma vez por todas a considerar os outros como superiores a si mesmo. Esse diálogo não vai se dar através de iniciativas institucionais, de campanhas ou organizações porque todos esses esquemas estão muito comprometidos com interesses outros, e não necessariamente com o vínculo da paz: histórica, real, divina. Esse diálogo deve começar através de nós, servos comprometidos com o reino e que desejam ver uma face da igreja (uma pelo menos) sendo mudada, e vidas sendo transformadas conforme a vontade do Senhor pela renovação de nossa mente.

Dessa revolução nós carecemos! E ela já começou! Começou porque o espírito age à revelia de nossos despertamentos e consciências; ele já está lá, aqui, acolá, ele não dorme, não descansa, não se engessa. “Ouçamos o Espírito, ouçamos o mundo”, diria John Stott.

Jonathan

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O paradoxo humano de viver

O ser humano não aceita o fato de ser imperfeito e pecaminoso. Pelo contrário, ele se culpa e se cobra muito por isso. Só se aceita tal fato, ou utiliza-se de, em situações que pedem uma explicação da parte culpada, diante de um erro patético e inegável. Falo por mim, pois, dia após dia, equívoco após equívoco, percebo o problema, que em mim se encerra, de admitir que certos erros são fruto das limitações e imperfeições inerentes à minha natureza, personalidade, modo de ser, e de simplesmente aceitar que, muitas vezes, nada posso fazer a não ser tentar não repetir o mesmo erro, não permanecendo nele, ao invés de ficar condenando excessivamente a mim e aos meus semelhantes, ou até mesmo me auto-defendendo frente a uma situação em que me encontro descabidamente equivocado.

Assim ocorreu hoje, e ocorrerão mais e mais vezes, até que um dia eu me dê conta de que toda percepção humana da realidade que me rodeia, é parcial, nunca é plena. Desta feita, a plena realização das coisas não se encontra aqui, nem agora, mas um dia há de vir, para aqueles que assim crêem, e para os que não crêem também, sendo que os últimos não poderão desfrutar dessa plenitude, pois nunca creram na existência desta plenitude em Deus, ou sequer aceitam a existência de alguma plenitude. Viver aqui é e, até que, em Cristo, venha a plenitude dos tempos, continuará sendo um grande paradoxo humano de viver. E há somente duas formas de viver neste paradoxo: uma é aceitando a Cristo e a liberdade que ele proporciona frente às neuroses de ser, àqueles que nele estão; a outra é ignorando completamente sua existência e proeminência sobre a história de todos os seres humanos.

Eu prefiro aceitar a Cristo e continuar vivendo no paradoxo, tendo a certeza de que “agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, porque por meio de Cristo Jesus, a Lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte” (Rom. 8:1,2). A má notícia é que, mesmo em Cristo, prosseguirei neste modo humano-paradoxal de viver, pois “o sol nasce pra todos”, para os que crêem e os que não crêem na verdade em Cristo. A boa nova é que minha história e esperança terrena se alteram, à medida que olho para o paradoxo, sob a perspectiva da Graça de Deus, e vejo vida, tenho vida, e vida em abundância.

Jonathan

terça-feira, 8 de abril de 2008

A glória de conhecer a Deus

Adquirir novos livros (e depois lê-los, é claro) tem sido umas das coisas em que mais tenho me deleitado, sempre que tenho condições para isso. É um hobby apaixonante, a cada nova aquisição, sentar-me num lugar tranqüilo, folhear as primeiras páginas do livro e conhecer um pouco sobre a trilha temática por onde o autor escolheu trafegar, ainda que naquele momento eu não venha ler o livro todo. Estes primeiros instantes são marcados por curiosidade e prazer. Todavia, tão logo o coloco na prateleira junto aos demais livros, ele acaba se tornando apenas mais um entre outros, isto quando não cai no esquecimento.
Parece-me que em nosso relacionamento com Deus o que ocorre, muitas vezes, não é muito diferente. O conhecimento do Senhor nos primórdios de nossa “conversão” e mudança de mentalidade assemelha-se àquela viagem fascinante que sempre desejávamos fazer, mas que nunca fora antes possível. O “primeiro amor” afigura-se como uma das experiências mais maravilhosas à vida de qualquer pessoa. O primeiro encontro com Deus é também distinto por curiosidade e encanto. Mas o que acontece à medida que passa o tempo, é que Deus, assim como conhecer novos livros, pode começar a se tornar trivial; aparece como mais uma entre muitas outras “ocupações” de nossa agenda, ou como uma alternativa a mais na infinda prateleira de artigos esotéricos, como um “faz-tudo” a quem recorremos apenas em momentos extremos.
Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR” (Jr. 9:24). Essa exortação é feita a um povo que sabia muito a respeito da Lei, mas muito pouco sobre Aquele que se encontra acima da Lei. Conhecer ou observar as leis de Deus, saber teologia, não era, não é e nem nunca será o bastante para conhecer a Deus de fato. O “conhecimento” ao qual Jeremias se refere diz respeito muito mais a uma entrega de si mesmo em submissão à vontade de Deus. Este conhecimento constitui-se como a maior glória que o ser humano pode ter e, portanto, não deve ser tratado levianamente.
O conhecimento de Deus nasce de uma viva conexão entre as palavras e as ações, entre um saber profundo das Escrituras Sagradas e atos de misericórdia e justiça às pessoas que nos rodeiam, a quem Deus ama. Ricardo Barbosa escreveu: “O que Deus espera de nós não é o quanto sabemos sobre Ele, mas o quanto o amamos”. Assim, o desafio que esta palavra nos aponta é para que nos aproximemos mais de Deus não como um objeto ou conceito a ser estudado, ou por mórbida e temporária curiosidade, mas como um ser pessoal que deseja se relacionar conosco, deixando de lado nossos cálculos, fórmulas e barganhas, e entregando-nos visceralmente a Ele, somente a Ele.

Jonathan

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Calvin e o "sentido da vida"


Um pouco de humor nessa segunda-feira de sol e muito trabalho! Calvin e suas perguntas filosóficas sobre o sentido da vida. Num tempo de tanto cinismo e superficialidade, como diz o poeta/profeta Gonzaguinha: "Eu fico com a pureza da resposta das crianças, é a vida é bonita e é bonita". Viver é "cantar a beleza de ser um eterno aprendiz". Não tenham vergonha disso, nunca!

Jonathan

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Carta a uma nação cristã

O ateísmo está em "alta": vivo e ativo. Pelo menos nos EUA. Depois do lançamento do livro "Deus: um delírio" (2006), de Richard Dawkins, Sam Harris, ateu, filósofo e parceiro de militância de Dawkins na causa ateísta, lança seu segundo livro: "Carta a uma nação cristã" (2007). Seu primeiro livro: "O fim da fé - religião, terror e o futuro da razão", já havia sido sucesso de vendagens nos EUA. Nessa obra, porém, o autor reporta-se diretamente aos cidadãos e cidadãs norte-americanos, que são essa "nação cristã" a qual ele alude no texto.
Duas coisas principais me chamaram a atenção nesse livro:

(1º) O autor faz uma desconstrução do cristianismo "por dentro", isto é, a partir dos meandros internos dessa religião, desde a Bíblia, passando pelos dogmas e teologia (e aqui nem os teólogos liberais e moderados, como ele mesmo chama, escapam), até chegar na raiz da moral e dos costumes cristãos.

(2º) Ele parte do pressuposto que seu livro-carta é um produto do fracasso do próprio ateísmo no último século e em nossos dias. Como ele afirma: "o fracasso dos numerosos e brilhantes ataques á religião que vieram antes, o fracasso de nossas escolas em anunciar a morte de Deus de um modo que cada nova geração possa compreendê-la, o fracasso da mídia em criticar as abjetas certezas religiosas das nossas figuras públicas, fracassos grandes e pequenos que vêm mantendo quase todas as sociedades deste planeta imersas nas suas confusões mentais acerca de Deus e desprezando todos os que têm confusões diferentes" (Harris, 2007, p. 85).

A meu ver, os argumentos de Harris contra as Escrituras são fracos e tendenciosos. Fracos porque desconsideram o contexto histórico-cultural em que foram produzidos os textos da Bíblia (e, nesse sentido, ainda é uma interpretação fundamentalista, embora ele combata veementemente o fundamentalismo, porque literal). Tendenciosos porque se fixam nas leis e mandamentos de Levíticos e Deuteronômio, que estão longe de serem universalmente aplicáveis.

Por outro lado, penso que suas críticas no que tange a história e moral do cristianismo são pertinentes, e em muitos sentidos também são as minhas. Sua denúncia ao caráter farisaico e pernicioso da religião muito se assemelha ás críticas de Jesus aos escribas e fariseus (Mt 23), de que "coam o mosquito", mas "engolem, o camelo". É um livro curto, direto e que tem uma pretensão bastante clara: extinguir cada vez mais a religião e seus apelos do coração do ser humano.

Fracassada ou não, certa ou errada, essa me parece uma pretensão um tanto quanto ousada e quimérica num mundo em que a religião assume, em forma de retorno avassalador após uma tentativa de exílio e supressão (falo da razão moderna), lugar cada vez mais predominante. E é claro que, para o Evangelho, isso tem tanto dimensões positivas e negativas. O positivo, a meu ver, é que existe uma nova abertura e predisposição do ser humano ao sagrado, e isso pode ser campo fértil para a penetração do Evangelho. Negativo, pois as muitas formas que esse sagrado assume na vida das pessoas hoje faz com que se pulverize a noção de verdade e de felicidade, que não residem mais necessariamente em Cristo, mas nos muitos deuses e muitos cristos erigidos, seja em nome da religião ou da própria busca de satisfação pessoal que pouco tem a ver com o Evangelho.

Abaixo, um trecho do livro de Harris, falando sobre a moral cristã no que diz respeito ao sexo. É para parar e pensar!

Jonathan

Sexo e moral cristã

Um dos efeitos mais perniciosos da religião é que ela tende a divorciar a moral da realidade do sofrimento dos seres humanos e dos animais. (...) Isso explica por que cristãos como você gastam mais energia “moral” fazendo oposição ao aborto do que lutando contra o genocídio. Explica por que você está mais preocupado com os embriões humanos do que com a possibilidade de salvar vidas, oferecida pelas pesquisas com células-tronco. E explica por que você é capaz de pregar contra o uso da camisinha na África subsaariana, enquanto milhões de pessoas morrem de AIDS nessa região a cada ano.

Você acredita que as suas preocupações religiosas a respeito do sexo, tão imensas e tão cansativas, têm algo a ver com moralidade. E, contudo, seus esforços para reprimir o comportamento sexual de adultos que agem por livre e espontânea vontade – e até para desencorajar seus próprios filhos e filhas a não fazerem sexo antes do casamento – quase nunca se destinam ao alívio do sofrimento humano. Ao que parecem aliviar o sofrimento está bem lá embaixo em sua lista de prioridades. Pelo visto, a sua principal preocupação é que o criador do universo ficará ofendido com algo que as pessoas fazem quando estão nuas. E essa mentalidade pudica contribui, diariamente, pare o excesso de infelicidade humana.
(...) Não há nada de errado em incentivar os adolescentes a se abster de sexo. Mas nós já sabemos, fora de qualquer dúvida, que apenas ensinar a abstinência não é uma boa maneira de reduzir a gravidez na adolescência nem a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis. Na verdade, os adolescentes quem só recebem lições de abstinência têm menos probabilidades de usar métodos anticoncepcionais quando fazem sexo – como muitos deles vão fazer, inevitavelmente.
(...) O problema é que cristãos como você não estão preocupados com a gravidez adolescente e a disseminação de doenças. Isto é, você não está preocupado com o sofrimento causado pelo sexo; você está preocupado com o sexo. E, como se este fato precisasse ainda mais de comprovação, o evangélico Reginald Finger, membro do Comitê Consultor de Práticas de Imunização do CDC, anunciou recentemente que pensa em se opor a uma vacina contra o HIV – condenando, assim, milhões de homens e mulheres a morrerem de AIDS a cada ano, desnecessariamente – já que tal vacina incentivaria o sexo antes do casamento, por torná-lo menos arriscado. Este é um dos muitos aspectos em que suas crenças religiosas se tornam genuinamente letais.

Sam Harris (na foto)
Trechos do livro: Carta a uma nação cristã (Cia das Letras, 2007).

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sexo e liberdade de consciência: um diálogo

Esse post é uma extensão de um diálogo estabelecido com meu amigo Ricardo Wesley Borges - desde terras uruguaias - nos comentários de dois posts anteriores. É, portanto, uma tréplica de suas relevantes indagações e considerações. Quem quiser, leia-as nos comentários ao post anterior. Agradeço a ele por oportunizar isso.

De fato, Ricardo, por ter sido formatado em termos de conversa (informal, aberta, a partir de uma situação específica) antes de ser publicado aqui, esse texto deixa algumas margens que, confesso, são mesmo arriscadas, como essa questão da certeza de ferir ou não ferir a partir de um critério de julgamento pessoal. Concordo contigo, a comunidade deve ser tomada como critério hermenêutico, isto é, ponto a partir do qual nossas interpretações da Palavra são geradas. Mas ainda penso que a responsabilidade final recai sobre o indivíduo, porque a decisão, no âmbito da sexualidade, é pessoal. E isso não exclui o âmbito comunitário, pelo contrário, deve aproximar, pois a meu ver a liberdade de consciência paulina tem um duplo movimento: da consciência pessoal à consciência alheia, e da consciência alheia remetendo outra vez à consciência pessoal (veja o texto de 1Co 10.23-33 - que, diga-se de passagem, fala de comida e não de sexualidade).

A consciência está em permanente relação com o Espírito de Deus e a liberdade, no que discerne as coisas boas das que são más: "todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm" (v. 23). Assim como as obras têm por objeto os homens, a consciência não é outra coisa senão a “integridade interior do coração”, como diria Calvino. A consciência, nesse sentido, é quem revela ao sujeito se esse é livre naquilo que pensa e faz, ou se está cativo de alguma espécie de ciclo condicionante, engendrado, via de regra, pelo próprio pecado - e aqui está implicada a prática do sexo ou qualquer outra. Como diz um antigo provérbio: “A consciência é como mil testemunhas”. Antes que hajam testemunhas externas, a consciência já é uma testemunha. Uma coisa não exclui a outra. Creio que isso não tenha ficado explícito naquilo que pontuei.

Paulo, escrevendo a Tito, exorta a que este repreendesse os fiéis quanto a falsos mestres e a falsas doutrinas, “para que sejam sadios na fé e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade”. Em seguida, ele fecha com uma cara convicção no que diz respeito à liberdade de consciência: “Todas as cousas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas” (Tt 1:14-15).
Penso que o sexo foi criado por Deus para ser benção. E ser benção implica ser concebido num contexto de amor e responsabilidade, afinal de contas "tornar-se uma só carne" não é algo banal, embora em nosso mundo tenha se tornado. O que me encabula demais é que a igreja transformou a sexualidade em sua pedra de toque; ela tem as interpretações corretas e as vias certas a se seguir. Nada pode sair desse eixo, muito menos cabe questionamento. E assim, vamos transformando em maldição aquilo que Deus declarou como sendo benção. Cortamos as verdades de Deus do tamanho de nossa mente teológica auto-suficiente e assim perdemos a dimensão de honestidade intelectual, que deveria ser tão cara a qualquer cristão. Tão focados nos costumes e nos dogmas, nos omitimos de nos acercar da realidade e respondê-la com relevância.

Concordo com Paulo; o problema não está nas coisas, que são puras em si, está nas pessoas, que, tendo corrompidas suas consciências e corações, transformam em impuro o puro. Logo, o problema não é o sexo (antes, durante, depois, etc.), é quem o faz, com quem o faz, como o faz e com que motivação o faz. E se não há amor e responsabilidade, haverá pecado, seja dentro ou fora do "casamento". Em síntese é o que penso. O debate continua aberto, meu amigo Ricardo.
Saudades e saudações brasileñas.

Jonathan

Uma breve conversa sobre sexo (Parte final)

Tenho experimentado uma porção de coisas nestes últimos anos, recebido tanto e doado tão pouco, e, por isso, em todas essas coisas não vejo mérito humano, nem meu, nem de outros, mas sim pura Graça Divina. Quando eu disse TUDO, foi pensando de uma forma ampla mesmo, pois a Graça é ampla, maior do que a gente pensa ou vê. Não se estresse muito com o fato de não achar muita justificativa na bíblia para o sexo antes do casamento, pois de fato não há, nem para antes, nem para depois do casamento, não da forma tão específica que se prega e se espera que haja. Não que a bíblia não contemple o assunto. Ela contempla. Mas, muitas vezes, penso que utiliza-se de uma hermenêutica que parece estar procurando "chifre em cabeça de cavalo". Não podemos dizer pelas Escrituras aquilo que elas não dizem. Nesse sentido, carecemos de um estudo que aborde a questão da sexualidade bíblica a partir de um prisma que enfoque tanto o que alguns textos dizem, como o que eles não dizem no que dizem, e desmistificar o que muitos pensam que eles dizem naquilo que estão dizendo. Em breve quero me dedicar a esse estudo.

Há diferenças entre fornicação e sexo, no que diz respeito à concepção de pecado, se este é maior ou menor em alguns casos?

Não vejo diferença entre uma coisa e outra, isto pensando nos dois pressupostos aqui discutidos: daqueles que acreditam que o sexo antes do casamento não é pecado, bem como dos que dizem ser pecado. Ora, pecado é pecado, portanto se sexo é pecado, a fornicação e seus atributos também são. De outra maneira, se sexo, do jeito como discutimos, não é pecado, outras “formas” também não são. Sejamos claros e objetivos, o que entendemos por fornicação? As "passadas" de mão, os beijos mais “calientes”, inclusive em outras partes do corpo, o sexo oral (sim, pois não há penetração vaginal), etc. Para mim, tudo isso é tão sexo quanto é o “fazer sexo”, guardadas as devidas proporções. Uma diferença básica é que ninguém engravida só passando a mão.

A meu ver, tudo depende do nível de intimidade e a relação de responsabilidade que se tem com a outra pessoa, e aí atingimos um ponto interessante: até que ponto o que eu faço à minha (meu) namorada (o), noivo (a), fere sua integridade física, moral, espiritual? Se você tem certeza de que não fere, e ela também, então não há o que temer, até porque você precisa e quer tanto quanto ela. Mas isso, a meu ver, é valido, sobretudo, quando há perspectiva de um compromisso longevo. Há uma passagem na bíblia em que Paulo diz assim: “é melhor que se casem do que vivam abrasados". Veja bem: ele não está dizendo aqui que É PROÍBIDO viver abrasado, até porque ele não trabalha com esse tipo de afirmativa. Grosso modo, ele apenas está dizendo que o casamento é o melhor lugar para se viver essas experiências - trata-se de um contexto seguro, de amor e responsabilidade - provando, nada mais nada menos, que conhecia bem nossa natureza humana, suas necessidades e limitações.
É no caminhar que se caminha, é vivendo, entre acertos e erros, que se aprende. O caminho do aprendizado, do diálogo e da honestidade é sempre mais custoso que o caminho da lei, das palavras e atos de repetição do que o outro determina como sendo absoluto pra minha vida, da linguagem da repressão. Afinal de contas, a exemplo do povo de Israel em Êxodo, o retorno à escravidão no Egito sempre será uma alternativa saudosa e tentatora diante da árdua peregrinação no deserto rumo à liberdade. "Para a liberdade foi que Cristo vos libertou; permenecei, pois, firmes, e não vos submetais de novo ao jugo da escravidão" (Gl 5.1,2).
Jonathan

terça-feira, 1 de abril de 2008

Uma breve conversa sobre sexo (Parte II)

Tudo que vicia e/ou aprisiona é pecado. Tudo que não provém de fé é pecado. Quando eu disse, lá atrás, que depende da pessoa que faz, quis dizer que nem todos têm a oportunidade de desenvolver uma mente aberta e consciente de que “tudo” é Graça de Deus, de crer que nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Dessa forma, o sexo se torna um peso, enfado da carne, e não benção de Deus. Eu já vi casos de casais de namorados, inclusive de amigos meus, que optaram pelo sexo antes do casamento, e, por não terem nenhuma preparação anterior (a “coisa” aconteceu de repente, num repentino ardor), tanto dentro da igreja como dentro do próprio relacionamento, e nenhum esclarecimento das implicações que isso tem para o presente e para o futuro deles, acabou com o relacionamento por não agüentarem as brigas e a péssima convivência, fruto da pressão gerada pela consciência fraca e despreparada de cada um. Ex: A menina, sem pensar, sede aos apelos do namorado, que diz que a ama, mas que no fundo está louco por outras coisas, e no fim das contas, depois de perceber que aquilo não era amor coisa nenhuma, mas desejo apenas, se desilude, termina o namoro, às vezes adoece, e, dependendo das circunstâncias, demora a vida toda pra se recuperar. Isso quando não vira escrava sexual do namorado.
Esse apenas é um caso, dentre tantos outros, uma possibilidade, dentre tantas outras. É preciso que os dois estejam conscientes e certos do que estão fazendo e do que isso implica. Surpresas podem vir? Sim. Mas, neste caso, elas serão menos dolorosas e penosas para os dois, que serão responsáveis e saberão enfrentar as conseqüências, juntos. A vida é menos “romântica”, em certos momentos, quando ela nos encara com a realidade. Não obstante, eu creio muito nisso que estou te falando, e assumo diante de Deus o que penso e falo. Não vejo mal algum no fato de se optar por não fazer sexo antes do casamento, mesmo que se tenha a consciência de que não há um grande mal nisso, dependendo daquelas circunstâncias que mencionei e tantas outras, pois, na prática, a coisa é sempre mais difícil. Não é só você que tem de tomar a decisão, não é só você quem vai fazer, são os dois, sempre os dois. E isto implica em dupla responsabilidade, compromisso e consciência quanto ao ato ou "atos". Quando o que rola é diferente disso, a coisa geralmente não anda mesmo.
Do contrário, eu acho muito positivo quando você chega a um patamar em que tem de reconhecer que, dentre tantas opções, a melhor é ficar como está, até que se tenha plena segurança do que está se fazendo, seja antes ou depois do "casamento". Isto sim, acima de tudo, ainda que sem o embasamento bíblico desejado, é uma atitude madura, pois reflete sua comunhão e temor a Deus. Na dúvida, é sempre melhor optar por não arriscar. Lembre-se: Tudo que não provém de fé É PECADO, já diria Paulo, um profundo entendedor da Liberdade e da Graça em Cristo Jesus. Quando falei que para mim TUDO É GRAÇA, me referia a todas as coisas que são boas e agradáveis aos olhos de Deus, inclusive o sexo. Mas eu não posso pensar que, porque é bom e agradável, vou então fazer da maneira que achar melhor, quando achar melhor.
Jonathan